Thaís Russomano
O país da saudade
Por Thaís Russomano
Médica especializada em Medicina Espacial
Gosto de viajar, de fazer planos, de tomar mapas na mão e desenhar o próximo destino. Gosto até mesmo da difícil tarefa de arrumar uma mala pequena que contenha o mínimo necessário, pois, há muito, cansei de carregar bagagens pensadas. Gosto de cruzar terras, ares e mares em busca de novas experiências - aprendo muito com isso! É quando me sinto mais viva.
Esse ir e vir constante acaba inevitavelmente moldando a alma do viajante, que se torna um cidadão do mundo, um conhecedor de diversas culturas, alguém capaz de interagir facilmente em sociedades distintas. Há, porém, um preço a pagar por tudo isso. Um cidadão do mundo não deixa de ser um cidadão sem país, que passa a viver em um limbo existencial, onde ele é tudo e todos e nada e ninguém - ao mesmo tempo! Isso me faz lembrar do comentário de um grande amigo que deixou a Argentina aos 25 anos para viver na Alemanha. “Sou um alemão sem infância e um argentino sem vida adulta”.
A melhor definição que já vi desse limbo geográfico-cultural, porém, foi dada por Suketu Mehta, no seu livro Bombaim-Cidade Máxima. Indiano de nascença, Suketu radicou-se com a família nos Estados Unidos, quando ainda era adolescente. Para trás, ele deixou cidade, escola, casa, amigos, toda e qualquer referência.
Em um dado momento de sua narrativa longa e densa, mas fascinante, ele conta que muito insistiu com a família para retornar ao seu país de origem, com o objetivo de terminar seus estudos. Foi quando o jovem Suketu ouviu a queixa do pai: “Quando você está lá, quer vir para cá. Agora que está aqui, quer voltar”. E ele pensou: “Foi quando percebi que tinha uma nova nacionalidade: Cidadão do País da Saudade”.
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